"A diferença entre a vida e a arte é que a arte é mais suportável." Bukowski

sábado, 5 de fevereiro de 2011

É triste ter a certeza de que você está só a todo instante.

Nighthawks, 1942. Edward Hopper.




Sentei numa mesa de bar, pedi uma dose de cachaça. Acendi um cigarro seguido de vários outros e enviei uma mensagem à alguém para que eu não me sentisse tão só naquele momento. Um homem velho, aparentava 50 anos, se aproximou e perguntou se eu não me incomodaria de aceitar sua companhia. Não me importei até que ele começasse a me incomodar com suas lamúrias e em seguida dizer que eu o havia inspirado. Ele me avistara de sua mesa e disse que minha imagem melancólica e solitária o havia inspirado, escrevia poesias, disse. Quis pagar uma bebida, não aceitei. Eu que naquele instante me sentia tão só afogada naquele copo logo sentia arrependimento pelo convite aceito. Não o dirigi a palavra pois estava bêbado. Me bastaria eu e minha embriaguez. Não estava nem um pouco à vontade com aquela situação e paguei minha bebida o deixando com meias palavras prontas e desconexas ali sentado. Eu disse adeus, ele disse estar agradecido pela companhia.
 Fui embora e no caminho já me sentia parte do cenário que vislumbrava. Bêbados, mendigos e prostitutas me faziam sentir menos só do que as pessoas que cruzavam meu caminho e tão distantes me encaravam com sutileza enquanto outras não. É triste voltar para casa, pensava. É triste ter pra onde voltar, pra quem voltar, pensava em minha mãe e meu irmão em casa esperando por mim. As prostitutas, os mendigos e os bêbados será que são felizes por terem alguém por eles esperar? Os bêbados talvez, os mendigos talvez nem caminho de casa, e as prostitutas a rotina, as noites e o sexo. No caminho me perguntei silenciosamente: Há alguém esperando por você realmente? Há possibilidades de conformidade com a vida que leva? Há?
Eu gostaria de saber de você, que lê, ou passa por aqui por acaso. Há chances de estar verdadeiramente satisfeito com a vida que leva? Há alguém esperando por você à não ser a sua vida?
Precisava me questionar sobre isso, esse vazio com que eu me deparo todas as vezes que ando pelas ruas embriagada sempre me parece significativo. É um vazio da minha vida, é uma transparência e uma ausência de mim mesma.


"Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"  Nietzsche


Hotel Room, 1931. Edward Hopper.


Louise Martins.
    

Um comentário:

Diego Kehrle disse...

...tocar a solidão de alguém é perceber que a sua existe e não tem fim.

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